As estatísticas deste blog têm indicado que o que mais atrai visitantes para cá são os ambigramas, especialmente pesquisas sobre “como fazer ambigramas”… Darei o que querem então.
Há a maneira fácil, que é usando geradores automáticos, como o FlipScript, o Ambimatic, e outros. Se isto bastar para você, ok, não precisa ler o resto deste post, pois a seguir iniciarei uma série de tutoriais sobre como fazer ambigramas.
Pretendo fazer um vídeo em breve, mas por ora vou dar algumas “bases teóricas”, e no final do post farei a análise completa de um dos meus ambigramas.
LIÇÃO I – Fazer um ambigrama (de qualquer tipo) sempre consiste em escrever duas ou mais palavras ao mesmo tempo.
Vamos refletir sobre o que acabei de falar… O que é escrever uma palavra? É torná-la legível para você e para os outros. Enquanto ela estiver na sua cabeça, ou escrita em um garrancho que até você tem dificuldade para entender, não pode ser devidamente lida, e não foi, portanto, devidamente escrita. Exceto no caso de médicos e crianças com menos de 6 anos, escrever palavras legíveis não é uma tarefa difícil.
Mas escrever duas (ou mais) ao mesmo tempo… Pode ser até impossível… Cada ambigrama é um achado, uma pedra preciosa, pois nem sempre é possível pegar duas palavras e fazer um ambigrama. A propósito, alguns devem estar achando estranho eu falar que todo ambigrama consiste em escrever duas ou mais palavras ao mesmo tempo, afinal, há ambigramas como:
Caópolis/Caópolis
e Reflexo/Reflexo
Acontece que para fazer ambigramas como o caópolis/caópolis, eu tenho que escrever a “palavra” caóp e ao mesmo tempo me preocupar se estou escrevendo direito também a “palavra” pólis ao girar o papel, e depois escrevo pólis de forma a parecer caóp, o que na verdade já está feito, é só “girar” a primeira parte e juntar. Esse tipo de ambigrama, chamado “simétrico”, é o mais fácil de se fazer e o com mais chances de dar certo. Tente fazer com seu nome, é um bom começo ;). No caso do ambigrama reflexo/reflexo, tive que escrever refl e lexo simultaneamente, com a diferença de que, em vez de girar para ver a outra leitura, eu consultava um espelho. Também é um ambigrama simétrico, mas é um tipo mais difícil de se fazer (imagino que tudo isso ficará claro quando eu fizer o vídeo).
Quando digo “escrever duas ou mais palavras ao mesmo tempo”, portanto, quero dizer “preocupar-se em gerar duas ou mais leituras para um mesmo elemento gráfico”. E como fazer isso? Certamente não há regras, mas posso dar algumas dicas. A primeira que darei é a mais óbvia: fazer com que cada letra se pareça com outra quando girada, refletida, etc. Embora raramente funcione 100%, já que precisa que as duas palavras tenham a mesma quantidade de letras, quase sempre é aplicada à maior parte da maior parte dos ambigramas, então definitivamente é o conceito mais importante por trás da criação desses. Se eu fosse enunciar esse conceito, eu diria: “Deve-se desenhar uma letra de modo que ela não se pareça completamente com ela mesma nem com a outra desejada, mas se pareça o suficiente com as duas”.
Para demonstrar tudo isso, analisarei um ambigrama meu onde esse conceito se aplicou integralmente:
Vejamos a primeira letra de verdade (e última de mentira):
O V já se parece com o A de cabeça para baixo. A única diferença é o traço do A, então tratei de amenizar essa diferença (o que talvez nem fosse necessário) colocando esse traço bem para cima no A e o deixando um pouco inclinado. Vamos para a próxima:
O E é o melhor amigo de quem faz ambigramas. Na maioria das vezes é só adicionar três “espinhos” à esquerda de uma letra, e quando girar ela vai parecer um E, e foi basicamente o que fiz com esse R. Também tentei deixar o R meio aberto e estreito, para não atrapalhar o E.
Regra geral quando quiser que uma letra se pareça com um I ao ser girada em 180º: faça a letra o mais estreita possível, e ponha um ponto embaixo dela. Quando girar, *plim*, vira um I =). Foi o que fiz aqui.
Aqui eu alonguei algumas partes do T para dar forma a um D quando girado. A aparência de “machado” que esse T tem é só uma mania estética minha xP, embora tenha servido para acentuar a forma de D, e também a do R do caractere anterior, que estava com a perna curta para se parecer mais com um I ao girar (vejam no ambigrama para entender).
O N é uma letra problemática, porque quando girado continua parecendo um N. Solução (neste caso)? “Atrofiei” a perna dele que não era aproveitada do A.
Novamente nosso amiguinho E. Só fiz “envergá-lo” um pouco e esticar umas pernas para parecer um D quando girado.
O M geralmente é problemático, mas como o E é moleza, acabou não sendo tão difícil juntar um ao outro. O resultado não ficou maravilhoso, mas como o resto das duas palavras já está bem legível, dá até pra “subentender” essa letra, por mais deformada que ela fique.
Concluindo esta lição… Um ambigrama tem tudo a ver com o resultado final e pouco com cada letra. Se a pessoa olhar por alto para o ambigrama e ler “verdade” e depois, girando, ler “mentira”, não importa se um N não está parecendo muito um N ou se um X não parece muito um X, é a leitura das palavras que importa, e as palavras não precisam estar escritas perfeitamente para serem lidas, prova disso são as várias caligrafias legíveis que uma pessoa pode usar para escrever, e as várias e diferentes fontes de texto ( Times New Roman, Old English Text…) usadas em computadores…
Espero ter ajudado =D. Outras lições virão.
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